31.10.06

Nomes prá história




Prof. Francisco Armindo Pereira da Costa

O professor Francisco Armindo Pereira da Costa foi um homem que sempre se dedicou à sua terra, de alma e coração.
Nasceu no dia 15 de Março de 1906 e faleceu a 3 de Outubro de 1982 e era filho do professor, Domin­gos da Costa e de D. Idalina Pereira da Costa, também professora primária.
O seu real talento nunca foi apro­veitado, muito devido aos seus ideais políticos. Era homem de «antes quebrar que torcer» e jamais aceita­ria, fosse o que fosse, para trair os seus ideais, mesmo com prejuízo da sua vida social, pois sempre optou por renunciar ao que lhe queimava as mãos e, até a ajuda dos seus amigos nos momentos difíceis.

Foi ensaiador, actor e criador, de fabulosas peças teatrais que eram apresentadas no antigo Cine Parque, em Salões Paroquiais e até na Casa do povo, criando um grupo Cénico de prestígio.
Mas a sua grande luta e o seu maior empenho era trazer à luz do dia a história da sua terra natal, desde a época anterior à romanização até aos dias de hoje, dedicando-se afincadamente, à pesquisa de vestígios arqueológicos, que não foram devidamente acautelados pela então Câmara de Guimarães, a exemplo daquilo que, anos mais tarde, foi feito na Praça da Republica, com muitos dos azulejos que atestam a presença romana na nossa terra…

A ele se deve a descoberta da Cista de S. Bento, sepultura celtibérica que se encontra na montanha sagrada de S. Bento a que, erradamente, se atribui origem romana…
Foi fundador do Notícias de Vizela, jornal do qual foi durante muito tempo o seu único redactor.

Publicou a sua obra-prima (1965) “Ad. Perpetuam”, utilizando o seu pseudónimo de sempre: Júlio Damas, obra importante na história e para a história de Vizela (era necessário fazer uma nova edição desta obra, pelo seu valor histórico…), “Vizela, Tagilde e S. Gonçalo”, (1970) obra importante para conhecermos a história do santo casamenteiro. Publicou ainda “O filho do Bombeiro”, “Poesias de Bráulio Caldas”. A morte não o deixou terminar duas das obras que tinha em preparação: uma biografia sobre o Abade de Tagilde e “Tarásia”, uma novela medieval.

30.10.06

Nomes prá história

António Alves Teixeira, O Vizela

“Um outro artista, com menor representação, infinitamente mais humilde, duma encantadora simpli­cidade, mas possuidor de reais condições para vir a ser um invulgar pintor chamava-se António Alves Teixeira, que pouco depois de ter entrado na antiga Academia Portuense de Belas-Artes e não demorar em ser notado por mestres e condiscípulos, recebeu o cognome de Vizela por justamente ser esta a terra da sua natura­lidade. Dizem os seus raros biógrafos que o moço vizelense viera para o Porto em 1854 iniciar os seus estudos de pintura. Embora aos sete anos de idade (!) tivesse dado mostras de natural e invulgar disposição para as artes, esculpindo em ardósia uma ingénua e delicada figurinha, a verdade é que só aos dezoito deu início aos seus aturados estudos na citada Academia Portuense.


A propósito deste artista, es­creveu Manuel Maria Rodrigues - outro minhoto a quem a crítica de arte não poucos serviços ficou de­vendo - as palavras que passo a transcrever do último fascículo da excelente revista «Arte Portuguesa», que em 1882, sob a égide do genial Soares dos Reis e Joaquim de Vasconcelos, teve a colaboração dos nos­sos melhores artistas e escritores:
«António Alves Teixeira, mais conhecido pelo apelido Vizela, nascera em 3 de Junho de 1836 na freguesia de S. Miguel das Caldas de Vizela, sendo filho de Domingos Alves Teixeira, artífice laborioso, e de Maria Pereira. As suas tendências para as belas-artes manifestaram-se em tenra idade, tendo apenas sete anos quando esculpiu em lousa uma pe­quena imagem. Apesar de tão felizes disposições, seus pais desejavam que ele fosse para o Brasil, e nesse intento tinham-lhe conseguido passagem em um navio que saia do Porto, quando se lhe deparou aqui um artista, que adivinhando-lhe a vocação, o levou con­sigo para Lisboa. Passado tempo, porém, o pequeno artista viu-se obrigado a regressar a casa de seus pais, e estes, convencendo-se afinal de que a melhor carreira que ele podia seguir era a das belas-artes, obtiveram-lhe agasalho nesta cidade para poder frequentar a Academia, onde se matriculou em 1854, sendo sempre o primeiro do seu curso, apesar da falta de recursos pecuniários o obrigarem a prolongar as férias indefi­nidamente, a fim de obter os meios de subsistência por meio de trabalhos que fazia de mera curiosidade, como imagens de madeira, pintura das mesmas, douramentos, etc.».
Mais adiante refere ainda o crítico: «Concluído o curso de pintura, o artista regressou à terra do seu berço onde casou, sendo assaltado no meio de uma vida quase de penúria, pela doença que o matou e que já se havia pronunciado ainda quando estudante. Os seus antigos condiscípulos, sabendo as priva­ções com que lutava, agravadas pela dolorosa enfer­midade que padecia, promoveram-lhe uma subscrição mensal aconselhando-o ao mesmo tempo a que viesse ao Porto para consultar os médicos. Infelizmente os seus sofrimentos recrudesceram, até que no dia 2 de Agosto de 1863 a morte pôs termo aos seus dias e às suas desventuras».


O jovem e enfermo Artista havia apenas dado os primeiros passos na sua auspiciosa carreira, e estes, em vários aspectos, já de certo modo nos asseguravam o valor temperamental de quem tão expressivamente se iniciava. O Pintor mal teve tempo de iniciar uma obra que, pela sua estrutural originalidade, conquis­taria invulgar posição no meio artístico português. Mas a morte, sempre pérfida e inexorável, não per­mitiu que um tão belo temperamento chegasse a completar-se de forma absoluta. Foi uma luz que se extinguiu ao despontar dum admirável e prometedor alvorecer e a Arte Nacional perdeu uma das suas mais nítidas e valiosas espe­ranças.


Com os meus agradecimentos ao Arnaldo Macedo (www.amac70.blogspot.com/ ) por ter transformado uma simples fotocópia num retrato belíssimo do nosso antepassado. Um abraço amigo

29.10.06

A Furna de Lujó

Santa Maria de Infias
A Furna dos Mouros


A Furna de Lujó como lhe chamou Martins Sarmento, fica no Monte de Alijó, a poente da primitiva Igreja de Infias, muito pertinho da Capelinha de Santa Ana.
O imaginário dos povos está povoado de lendas e narrativas, em que mouras encantadas e aguerridos combatentes estreitam laços com populações locais e não raras vezes associadas a imensos e incalculáveis tesouros.
A nossa região está carregada dessas lendas que abundam um pouco por todo o lado, em que o pavor dos infernos está sempre de mãos dadas com o sobrenatural.

“O fiador principal da existência do misterioso povo por este sítio é a «Furna dos Mouros», já hoje conhecida dos arqueólogos por um escrito do nosso amigo, o pro­fessor Pereira Caldas. Tem quatro palmos de largo, o dobro de alto, uns doze de extensão e está aberta no plano vertical dum enorme penedo (que se diria cortado à serra de alto a baixo!) e para uma das suas extremidades. Ë fácil porém de ver que a mão do homem pouco tem a ver com aquilo. Se compararmos a furna com uma porta, seremos bem entendidos, dizendo que a ombreira esquerda apresenta na parte superior uma larga fenda bruta, que a separa do corpo do penedo e é fácil de conhecer então como a furna foi produzida. A mesma convulsão da natureza, que pôde desagregar o que chamamos ombreira, reduziu a maiores ou meno­res estilhaços a parte da rocha, onde hoje vemos a porta, e o homem não fez mais do que extrair os estilhaços, adaptando aquele abrigo a um uso qualquer. Isto, já se vê, na hipótese de que a «Furna dos Mouros» tenha sido utilizada pelo homem. Para o acreditar, não temos outra garantia senão a lenda popular e não é ela das mais próprias a catequizar os incrédulos. A Furna, diz a crença do povo, era a entrada para uma mina subterrânea, que levava a um pequeno ribeiro do vale. Imagina-se que riquezas por ali haverão. Por isso os sonhadores de tesouros vêm periodicamente revolver a terra, que se tem acumulado no pavimento da furna. O alvião (utensílio rural) não deve tardar a encontrar rocha dura; mas os crendeiros (os que acreditam) nem assim perdem a ilusão; levam apenas o desengano de que não tiveram a fortuna de encontrar a comunicação com o subterrâneo, que lá está por baixo.
Temos por certo que a Furna dos Mouros era uma sepultura da mesma espécie e que ela forneceu também algumas antigualhas, cujo préstimo se não percebeu, deixando aos comentadores ampla liberdade para atribuir ao esconderijo a serventia, que melhor lhes pareceu.(…)”

In – A Furna de Lujó – Dr. Francisco Martins Sarmento
PS. Sem pedir autorização e sem aviso prévio, um vírus (que não da Gripe das Aves) entrou na minha máquina e lentamente começou a deglutir as suas entranhas. Por pouco chegava ao coração...
Com o meu pedido de desculpas e um abraço aos meus fieis visitantes
Júlio César