7.9.06

VALE DO VIZELA(II)
por Sant’Anna Dionísio

Numerosas captações e canalizações, tanques e tinas, pavimentos de mosaicos, constituíam esse interessante estabelecimento termal romano, hoje invisível.
Salvaram-se apenas alguns fragmentos de tubagens que foram recolhidos no museu arqueológico de Martins Sarmento, em Guimarães.
Por uma lápide epigráfica, de amplas proporções, de uns doze palmos de comprimento, retirada possivelmente de algum antigo pórtico, se depreende que junto das «termas romanas» de Vizela devem te
r existido templos ou edifícios de certo vulto. Na inscrição se diz que o oferente era um tal Flavius Archelaus Claudianus, legado imperial A ponte romana lançada sobre o Vizela a duas centenas de passos a jusante das termas estava decerto relacionada com uma das vias militares bracarenses: a que vinha do Vale do Ave para o Tâmega via Amarante.
Pouco depois da época das grandes invasões germânicas, em 369, Vizela parece ter sido repovoada pelo rei visigodo Atanagildo.
O topónimo da freguesia próxima de Tagilde talvez o relembre.
Nos meados do séc. X (964), o rei asturiano Ordonho estanciou perto de Vizela, na sua vila de Cascalheira, que ele doou a uma dama da sua particular afeição, de nome Adosinda.
Um século mais tarde, o rei de Leão, D. Afonso V, acompanhado da rainha-mãe, aí recebeu a visita dos frades beneditinos vimaranenses, que a condessa Mumadona protegeu e amimou, oferecendo-lhes, além de muitas rendas de pão e vinho, uma apreciável biblioteca. Era preciso, pois – escreve com certa razão o antigo e já citado lente de Matemática, Pereira Caldas – que nestas paragens de Vizela houvesse então edifícios capazes da acomodação dum rei e uma rainha e preciso se tornava, igualmente, que muito grande fosse então a nomeada dessas águas sulfurosas para que a corte chegasse a abalar-se para elas, através das grandes distâncias do interior da Espanha.
No século de oiro da Idade Média (o século de Dante e de Pedro Hispano), nasceu nas cercanias de Vizela, na obscura aldeia de Arriconha, o viajado monge e pericial artífice S. Gonçalo, o padroeiro amarantíno e construtor da celebrada ponte sobre o Tâmega.
Na mesma paróquia, Tagilde, se firmaria algum tempo mais tarde, um acordo importante entre o rei português, D. Fernando, e os delegados do duque de Lencastre – o chamado pacto de Tagilde que seria o primeiro instrumento jurídico do tratado de aliança que ainda hoje perdura entre Portugal e Inglaterra.
À vista de Vizela transitou rapidamente, em fins de Maio de 1809, o pequeno exército napoleónico de Soult, que, em marchas forçadas, pela cumeada dos montes, procurava alcançar a raia da Galiza, no Alto Cavado.
De passagem por Pombeiro, essa tropa fugitiva lançou fogo ao mosteiro e dai seguiu para o Norte, juntando-se aos destacamentos, vindos de Amarante, de Loison, e aos dragões de La Houssaye, que haviam ocupado Guimarães durante dois meses. (FIM)

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