9.9.06

Bombeiros Voluntários

Porque falar das Associações de Vizela, é também falar da história de Vizela irei, a partir de hoje, falar um bocadinho da história das várias associações de Vizela, não me preocupando com uma cronologia rígida e cega, rigorosa ou metódica, mas tão-somente falar um pouca de cada uma


Vimos já em anteriores postagens que, no segundo quartel do século XIX, Vizela era já uma povoação com alguma importância.

Aliás, se quisermos perder (ou ganhar…) um pouco de tempo a calcorrear algumas das ruas da cidade, vemos nas fachadas de algumas casas, a data da sua fundação, que nos remetem para aquele período. Assim não é de admirar que, em face da presença, já significativa, de aquistas e familiares, além dos naturais e outros visitantes, se inquietassem alguns espíritos face a uma hipotética desgraça. Para prevenir alguma desgraça, a Câmara Municipal de Guimarães, em 1865, mandou para Vizela, uma pequena bomba sem pessoal algum, pelo que quatro vizelenses se adestraram no manejo dessa bomba e se constituíram em bombeiros voluntários, prestando relevantes serviços aos seus conterrâneos.

Em Novembro de 1876, Armindo Pereira da Costa reúne em sua casa um punhado de vizelenses e constitui-se a primeira comissão que ficou assim ordenada: Armindo Pereira da Costa, António Pedro barros de Lima, António José Dias Pereira, Dr. Abílio Torres, Joaquim Ribeiro da Costa, António de Azevedo Varela, Luís Antunes Pereira, Joaquim de Freitas Ribeiro de Faria, Joaquim Pinto de Sousa e Castro, João Ribeiro de Freitas Guimarães e Clementino Marcelino de Oliveira. Nesta reunião é eleita a 1ª Direcção que foi presidida pela Dr. Abílio Torres. Armindo Pereira da Costa foi nomeado 1º Comandante e Joaquim António da Silva, 2º Comandante. Organizam-se peditórios e quermesses, cujos produtos revertem a favor da Corporação, possibilitando a compra de diverso material.
Era o dia 8 de Maio de 1877 e numa bela manhã, o Corpo Activo da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vizela, com 30 homens garbosamente fardados, percorre as ruas de Vizela, depois de assistir a uma missa na igreja paroquial de S. Miguel.

Possuíam os bombeiros na altura o seguinte material: Uma bomba grande de 2 agulhetas, que custou 450$000 reis; 2 mangueiras que custaram 102$000 reis; um carro de material (escadas, bicheiros, machados, etc) que custou 150$000 reis; fardamento que custou 600$000 reis, etc. Todo este material foi comprado por donativos que a comissão instaladora consegui arranjar, lamantando-se na altura (se calhar, como agora!) o facto de ter somente doze sócios.

Ao longo destes quase 130 anos de existência, muitos são os louvores, condecorações e outras comendas que os Bombeiros já receberam, mas certamente o mais significativo de todos será o que foi concedido por D. Carlos I, em Carta Régia, atribuindo-lhes o titulo de Real Associação.

7.9.06

VALE DO VIZELA(II)
por Sant’Anna Dionísio

Numerosas captações e canalizações, tanques e tinas, pavimentos de mosaicos, constituíam esse interessante estabelecimento termal romano, hoje invisível.
Salvaram-se apenas alguns fragmentos de tubagens que foram recolhidos no museu arqueológico de Martins Sarmento, em Guimarães.
Por uma lápide epigráfica, de amplas proporções, de uns doze palmos de comprimento, retirada possivelmente de algum antigo pórtico, se depreende que junto das «termas romanas» de Vizela devem te
r existido templos ou edifícios de certo vulto. Na inscrição se diz que o oferente era um tal Flavius Archelaus Claudianus, legado imperial A ponte romana lançada sobre o Vizela a duas centenas de passos a jusante das termas estava decerto relacionada com uma das vias militares bracarenses: a que vinha do Vale do Ave para o Tâmega via Amarante.
Pouco depois da época das grandes invasões germânicas, em 369, Vizela parece ter sido repovoada pelo rei visigodo Atanagildo.
O topónimo da freguesia próxima de Tagilde talvez o relembre.
Nos meados do séc. X (964), o rei asturiano Ordonho estanciou perto de Vizela, na sua vila de Cascalheira, que ele doou a uma dama da sua particular afeição, de nome Adosinda.
Um século mais tarde, o rei de Leão, D. Afonso V, acompanhado da rainha-mãe, aí recebeu a visita dos frades beneditinos vimaranenses, que a condessa Mumadona protegeu e amimou, oferecendo-lhes, além de muitas rendas de pão e vinho, uma apreciável biblioteca. Era preciso, pois – escreve com certa razão o antigo e já citado lente de Matemática, Pereira Caldas – que nestas paragens de Vizela houvesse então edifícios capazes da acomodação dum rei e uma rainha e preciso se tornava, igualmente, que muito grande fosse então a nomeada dessas águas sulfurosas para que a corte chegasse a abalar-se para elas, através das grandes distâncias do interior da Espanha.
No século de oiro da Idade Média (o século de Dante e de Pedro Hispano), nasceu nas cercanias de Vizela, na obscura aldeia de Arriconha, o viajado monge e pericial artífice S. Gonçalo, o padroeiro amarantíno e construtor da celebrada ponte sobre o Tâmega.
Na mesma paróquia, Tagilde, se firmaria algum tempo mais tarde, um acordo importante entre o rei português, D. Fernando, e os delegados do duque de Lencastre – o chamado pacto de Tagilde que seria o primeiro instrumento jurídico do tratado de aliança que ainda hoje perdura entre Portugal e Inglaterra.
À vista de Vizela transitou rapidamente, em fins de Maio de 1809, o pequeno exército napoleónico de Soult, que, em marchas forçadas, pela cumeada dos montes, procurava alcançar a raia da Galiza, no Alto Cavado.
De passagem por Pombeiro, essa tropa fugitiva lançou fogo ao mosteiro e dai seguiu para o Norte, juntando-se aos destacamentos, vindos de Amarante, de Loison, e aos dragões de La Houssaye, que haviam ocupado Guimarães durante dois meses. (FIM)

6.9.06

VALE DO VIZELA
por Sant'Anna Dionisio

Há quem pressuponha e com algum fundamento, que no lugar onde hoje se situa Vizela teria existido um acampamento romano porventura o relacionado com a expedição subjugante dirigida e promovida, nos meados do séc. II a. C. {138), por Décio Bruto, contra os clans lusitanos existentes entre o sulco do Douro e do rio Minho.

Na verdade, no local e nas cercanias, têm sido exumados muitos vestígios de construções de feição romana e algumas lápides epigráficas que corroboram essas conjecturas.
Um antigo lente de matemática do liceu de Braga, o professor Pereira Caldas, conheceu e examinou alguns desses vestígios, referindo-se, com precisão, às tejolarias, cavas e lanços de fossos «ainda bem conservados em parte e com disposição bastante apreciável dos tabuleiros e planos inclinados.»
Provavelmente a instalação desse campo militar teria sido cultivada pela resistência que os moradores de uma cividade lusa designada Cinnânia, cuja localização exacta se ignora – tão habitual eram a destruição radical e implacável ordenada pelos chefes romanos quando os nativos de uma região ou cividade lhes ofereciam resistência ou se sublevavam

Dada a situação dominante da cividade fortificada, os Romanos ter-se-iam visto na necessidade de recorrer a certos preparativos de assédio. O acampamento de Vizela teria sido uma das bases do cerco ou assalto que decerto terminou pelo extermínio dos altivos Cinnanenses e pela destruição da sua urbe.
Em 1788 foi achada nas Caldas de Vizela uma lápide epigráfica, honorífica, em cujo fecho se lia o nome abreviado dos Cinnanenses (R. COS. (CINN). Era uma pequena pedra quadrangular, com inscrições nas quatro faces.

Na época imperial da «paz romana», Vizela, tornada conhecida pelas virtudes terapêuticas das suas múltiplas nascentes de águas sulfurosas, passou a ser uma estância termal de relativo luxo, segundo se infere dos impressivos vestígios de instalações balneares que aí se descobriram nos meados do século passado, quando se deu inicio ao reaproveitamento das águas. Desgraçadamente, por determinação de uma edilidade vimaranense pouco esclarecida, esses achados, verdadeiros testemunhos dos hábitos hidro-terápicos dos antigos dominadores da Península, foram novamente entulhados.
Se tivessem sido resguardados, seriam talvez a mais importante ruína balnear ibérica da época da Romanização.
Deve dizer-se que essa rude destruição se efectuou apesar das prudentes advertências de um publicista, Wenceslau de Sousa, que, em 1849, num periódico portuense (Cf. Nacional, Nº 146, de 28-Junho), escreveu:
«A Câmara deveria explorar todo aquele terreno com as cautelas que demandam tais escavações...; porém, é condição nossa, dos cargos municipais caírem sempre em mãos...» [!!!]

4.9.06

Ainda o Parque das Termas

Porque a necessidade aguça o engenho, tenho procurado artigos e outros textos, que me falem do Parque das Termas e nessa procura, encontrei este belo artigo publicado no Jornal “ Noticias Agrícola” na sua edição de 1 de Setembro de 1949 e assinado por João Moreira da Silva.


Quatro fotografias de frondosas árvores ilustram esse artigo, com as sugestivas legendas: “ Lindíssimas “ Taxadiuns Distinchum”, nas margens do Vizela”; “ Estes eucaliptos não são da Austrália, mas do Parque de Vizela...”; “ dois belos exemplares de “Cedrus Deodara e no primeiro plano uma Fourcroya Gigantes”; e ainda: “uma Taxodium Sempervirens Gigante, do Parque de Vizela”

Estas são as legendas das fotos que acompanham o artigo em causa, intitulado “ UMA VOLTA POR VIZELA” em que o autor, a determinado passo refere: “ (...) mananciais de água nascem a 47, 5 graus, no subsolo do romântico Vizela que atravessa a Vila, com os seus açudes e represas, depois de formar um lindo lago no grandioso Parque das Termas. Este lago, circundado de árvores de belo porte, como os magníficos exemplares das celebérrimas Sequóias da Califórnia (Taxidium Sempervirens), o Cedro Bastardo do
Noroeste da África, conífera que chega a atingir 200 metros de altura e 10 de grossura, dando ideia de enormes colunas monolíticas, coroadas de ramos verdes, curvados graciosamente sobre a terra. São desta variedade as árvores monstruosas das Costas do Pacifico e à volta do “Glaciar Point” (...) Dos exemplares existentes no Parque de Vizela, que devem ter três quartos de século de existência, pois foram plantados entre 1875 e 1880, mede o mais grosso dois metros de diâmetro com altura superior a trinta metros. São exemplares notabilíssimos, como outros certamente não existem em Portugal e que devem ter sido plantados, quando da construção do Parque pelo então Director das Termas Dr. Abílio Torres, grande amador de arvores (...). Mas não somente as Sequóias Sempervirens as árvores notáveis ali existentes, pois encontramos lá também, quatro notabilíssimos exemplares de Taxidium Distinchum, um deles com um metro e vinte de diâmetro. (...) São dos maiores e mais antigos que temos encontrado (...) dois deles estão plantados na margem do rio e formam um contraste precioso com os Amieiros, Robinias e Freixos, etc.” E a descrição sobre as árvores do Parque continua: “ Neste Parque de Vizela, que possui muitos encantos e magnificas sombras, existem outras arvoras notáveis pelo tamanho, como as belas Araucárias Brasilenses, ao lado das
Cryptomerias, que é a maior árvore do Japão, chegando a ter 36 metros de altura e mais de 10 de diâmetro. As fenomenais e belas Tílias Argenteas de folhagem prateada, os belos e gigantescos Platanus Orientalis, os velhos Cupressus Lusitanica, as grandiosas Magnolia Grandiflora, os belos e piramidais Cedrus Deodara, os elegantes Cedrus Atlantida Glauca, as majestosas Tulipiferas (Liriodendron Tulipifera), a celebre Arvore do Ponto, por coincidir a floração com a época dos exames, os velhos e altivos Quercus Pedunculata, o Carvalho dos nossos antepassados, os Acer Campestre, os gigantescos e direitos Eucalyptos Glóbulos e até um belo exemplar de Fagus Sylvática Tricolor”.

João Moreira da Silva termina
o seu belo e extenso artigo desta forma: (...) vi dúzias de Agaves Cizelanas ou Forcroyas Gigantes (...) que dão ao Parque uma nota muito Africana, (...) notei soberbos Abetos e outras árvores e arbustos notáveis, como a Malaleuca com 10 metros de altura, uma mata de Austrálias, a conhecida Acácia Melanoxylon, que formam com os Eucalyptos e outras espécies, um denso bosque, logo a seguir ao Parque”.
As árvores da entrada do Parque das Termas de Vizela, foram em grande parte destruídas pelo ciclone de 1941, mas a Direcção das Aguas Termais mandou a seguir recompô-lo e plantar no lugar das Tílias, o Quercus Rubra, o Carvalho Americano, de bela folhagem recortado e que fica vermelha no outono. A fazer fundo com esta linha de árvores, estão uns Acer Negundo Folis Aureis, que dão alegria à entrada do Parque, com a sua folhagem clara
”.