6.9.06

VALE DO VIZELA
por Sant'Anna Dionisio

Há quem pressuponha e com algum fundamento, que no lugar onde hoje se situa Vizela teria existido um acampamento romano porventura o relacionado com a expedição subjugante dirigida e promovida, nos meados do séc. II a. C. {138), por Décio Bruto, contra os clans lusitanos existentes entre o sulco do Douro e do rio Minho.

Na verdade, no local e nas cercanias, têm sido exumados muitos vestígios de construções de feição romana e algumas lápides epigráficas que corroboram essas conjecturas.
Um antigo lente de matemática do liceu de Braga, o professor Pereira Caldas, conheceu e examinou alguns desses vestígios, referindo-se, com precisão, às tejolarias, cavas e lanços de fossos «ainda bem conservados em parte e com disposição bastante apreciável dos tabuleiros e planos inclinados.»
Provavelmente a instalação desse campo militar teria sido cultivada pela resistência que os moradores de uma cividade lusa designada Cinnânia, cuja localização exacta se ignora – tão habitual eram a destruição radical e implacável ordenada pelos chefes romanos quando os nativos de uma região ou cividade lhes ofereciam resistência ou se sublevavam

Dada a situação dominante da cividade fortificada, os Romanos ter-se-iam visto na necessidade de recorrer a certos preparativos de assédio. O acampamento de Vizela teria sido uma das bases do cerco ou assalto que decerto terminou pelo extermínio dos altivos Cinnanenses e pela destruição da sua urbe.
Em 1788 foi achada nas Caldas de Vizela uma lápide epigráfica, honorífica, em cujo fecho se lia o nome abreviado dos Cinnanenses (R. COS. (CINN). Era uma pequena pedra quadrangular, com inscrições nas quatro faces.

Na época imperial da «paz romana», Vizela, tornada conhecida pelas virtudes terapêuticas das suas múltiplas nascentes de águas sulfurosas, passou a ser uma estância termal de relativo luxo, segundo se infere dos impressivos vestígios de instalações balneares que aí se descobriram nos meados do século passado, quando se deu inicio ao reaproveitamento das águas. Desgraçadamente, por determinação de uma edilidade vimaranense pouco esclarecida, esses achados, verdadeiros testemunhos dos hábitos hidro-terápicos dos antigos dominadores da Península, foram novamente entulhados.
Se tivessem sido resguardados, seriam talvez a mais importante ruína balnear ibérica da época da Romanização.
Deve dizer-se que essa rude destruição se efectuou apesar das prudentes advertências de um publicista, Wenceslau de Sousa, que, em 1849, num periódico portuense (Cf. Nacional, Nº 146, de 28-Junho), escreveu:
«A Câmara deveria explorar todo aquele terreno com as cautelas que demandam tais escavações...; porém, é condição nossa, dos cargos municipais caírem sempre em mãos...» [!!!]

3 comentários:

Anónimo disse...

Sant'Anna Dionisio, foi um grande escritor, principalmente escritor de viagens, que muito disse sobre Vizela.
Ainda bem que há alguém que se preocupa, em divulgar os autores que falaram(e falam...) sobre Vizela.
Era bom que o Sr. vereador da Cultura da Câmara Municipal de Vizela, visse este Blog, assim como era bom que em Vizela se comece a dar atenção quem sabe e a quem merece

VizelaFan disse...

Em primeiro lugar queria felicita-lo pelo excelente trabalho desenvolvido em prol da nossa terra.
Falando deste post e mais concretamente nas ruínas que, penso eu, estão soterradas na praça, próximo do Callidas:
à pouco tempo atrás li no JN que em Viseu foram encontradas algumas ruínas no centro da cidade. Naquela cidade e ao contrário da nossa, encontram uma solução que, a meu ver, resultou em pleno. Conservaram as ruínas. A parte da rua onde elas estão foi fechada ao trânsito e foi colocado um vidro. Assim as pessoas passam literalmente por cima das ruínas podendo admirá-las e a câmara conseguiu manter a rua funcional. Porque não uma solução parecida para as nossa praça??

VizelaFan disse...

Podem ler e ver mais sobre esta solução de Viseu aqui:
http://jn.sapo.pt/2006/08/07/centro/muralha_romana_rua_formosa_museu_vid.html