12.10.06

Partilhar - Hospital de Vizela (IV)

(...) Foi assim, que a notícia do seu falecimento chegou a Portugal e depressa, a Mesa da Santa Casa de Misericórdia de Guimarães tomou conhecimento, se atendermos que, na época, as comunicações se faziam exclusivamente por via marítima. Na sessão de 17 de Agosto de 1873 (um mês, portanto, após o falecimento de António Francisco Guimarães!) e, com base no conhecimento “extra-oficial” do falecimento e do legado, a Mesa da Misericórdia de Guimarães, logo resolveu oficializar a Misericórdia do Rio de Janeiro e de Campinas, pedindo informações e manifestando o desejo de que se pusessem de acordo “neste negócio, os seus comuns e recíprocos interesses (sic) ”
A terça que competiria ao legado feito à Misericórdia de Guimarães, depois de deduzidos os encargos que a oneravam e que foi transferida de Londres, era de 58.483$872 reis em moeda Portuguesa. (que andaria nos tempos que correm, à volta dos 2.500.000 de €uros)
Nunca pensaria, porem, o benemérito testador, que a sua “casa de caridade ou misericórdia”, teria de esperar cerca de 50 anos, para se tornar realidade. 50 anos ??? É verdade, assim aconteceu.
Os termos em que se expressou no seu testamento, acerca do legado para “se fundar uma casa de caridade ou misericórdia nas Caldas de Vizela”, suscitaram dúvidas de interpretação, que foram levantadas pela Misericórdia de Guimarães:
Como seria?
1º - A metade dos lucros para a Misericórdia de Guimarães, era só aqueles que esta agenciasse com a quantia que recebesse ou também com toda que capitalizasse?
2º - Em qualquer das hipóteses, a Misericórdia percebia sempre essa metade dos lucros ou só até à época em que fundasse o estabelecimento?
3º - Até quando deveria fazer-se a capitalização dos juros? Sempre ou até à fundação do estabelecimento?(...)

11.10.06

Partilhar - Hospital de Vizela (III
(...) Deixou 3.000$000 réis ao pároco de Moreira de Cónegos para constituir o dote de 12 donzelas pobres da sua terra natal, preferindo as parentas do testador; mais 2.000$000 réis ao mesmo pároco para distribuir pelos seus paroquianos mais pobres; dispôs ainda de outros legados e determinou o remanescente da sua terça para dividir em 3 partes, uma das quais seria entregue à Misericórdia de Guimarães, metade para ela e outra metade para, com o seu rendimento capitalizado, se estabelecer e manter nas Caldas de Vizela, uma casa de caridade ou Misericórdia, onde fossem tratados os enfermos pobres da vizinhança, sendo sempre preferidos os da sua terra natal – Moreira de Cónegos.
A Misericórdia de Guimarães liquidou 57.656$561 reis e a quantia recebida, com juros acumulados, montou a 77.971$478 reis.
Para cumprimento da vontade daquele benemérito cidadão, isto é – para a escolha do local onde devia ser fundado o hospital, a Santa Casa de Misericórdia de Guimarães, nomeou a 22 de Maio de 1883, uma comissão que, segundo consta, não apresentou trabalho algum.
Em 1888, foi nomeada outra comissão com o mesmo fim composta dos párocos de Moreira de Cónegos, S. Miguel e S. João das Caldas, alem do Dr. Abílio Torres e do farmacêutico, José de Freitas Oliveira, a qual se desempenhou do seu encargo, apresentou os seus trabalho à Misericórdia, indicando o sitio do Outeiro para a fundação do Hospital, por isso é de crer que, dentro em pouco se veja organizado tão santo instituto, legado pelo benemérito António Francisco Guimarães” (...)
(...) António Francisco Guimarães, “natural de S. Paio de Moreira de Cónegos, na província do Minho, reino de Portugal, filho legítimo de Manuel Fernandes Dias e de Maria Francisca, faleceu na cidade de Campinas, Brasil, em 16 de Julho de 1873” (...)

10.10.06

Partilhar - Hospital de Vizela (II)
(...) José Diogo Mascarenhas Neto, na Memória sobre as Antiguidades de Caldas de Vizela (1888) expõe a ideia “ da fundação de um hospital em Vizela, indicando com esta denominação apenas um pequeno estabelecimento termal, para os enfermos fazerem uso dos banhos.
Assim, nos princípios do século passado, (cerca de 1830) funcionou um albergue, fundado e mantido por uma comissão de vizelenses que para tão caridoso fim, agenciavam donativos.

Ali recolhiam e sustentavam, durante a estação balnear, enfermos pobres que necessitavam de banhos.

Em 1848, a Câmara de Guimarães, para explorar uns banhos no local onde estava esse “albergue” procedeu à demolição do dito, com a promessa de fundar, no mesmo local um outro, com condições mais condizentes com o fim a que se destinava”. O certo é que, até aquela data (1888) ainda não tinha cumprido a promessa. (sabemos hoje que nunca cumpriu).

E continua Mascarenhas Neto: “vai porem, Vizela, ter um bom hospital, graças a um cidadão benemérito que longe da pátria, não se esqueceu da miséria e da pobreza.
Aquele cidadão benemérito foi, António Francisco Guimarães, filho de Manuel Fernandes Dias e de Dª. Maria Francisca, natural de S. Paio de Moreira de Cónegos
Em tenra idade foi, como tantos patrícios nossos, para as terras de Santa Cruz, em demanda de fortuna; depois de longos anos de trabalho persistente e honrado, felizmente encontrou-a, mas aí perdeu a vida.
Faleceu a 16 de Julho de 1873, na cidade de Campinas, sendo ali sepultado no cemitério do Santíssimo Sacramento.
Viveu e morreu longe, muito longe da pátria, mas como bom patriota, jamais a esqueceu. Pelo contrário, amou-a sempre com filho extremoso até aos últimos dias da sua vida e no seu testamento, feito e aprovado em 4 de Agosto de 1868, a instituiu por herdeira de uma grande parte da sua fortuna (...)

9.10.06

Partilhando - Hospital de Vizela (I)

Mergulhar nas cinzas do passado, é trazer para o presente e legar para o futuro, as páginas mais importantes e significativas da história, seja da nossa família ou da nossa terra, para que a possamos melhor compreender, satisfazendo e ampliando, o nosso orgulho de filhos, naturais da terra que nos viu nascer ou nos nossos progenitores.
Tenho procurado trazer, ao longo das últimas postagens, alguns apontamentos da história de Vizela na convicção de contribuir para o enriquecimento cultural da nossa terra, convicto ainda que muito mais poderia ser feito se, quem de direito, desse alguns passos nesse sentido.
Para isso socorro-me de alguns legados que possuo e outros que vou adquirindo e muitos outros que me dado consultar aqui e ali, quer em bibliotecas e museus, quer em casas de particulares e amigos, além daquilo que vou aprendendo, no dia a dia, em conversas profícuas com anciãos, autenticas bibliotecas vivas, que dá prazer ouvir e registar. Mas, mesmo assim, recrimino-me e lamento-me por serem tão escassos e, por possuir tão pouco engenho e arte, para poder transmitir de uma forma mais clara, compreensível e precisa, algumas das mais belas páginas em que a nossa história é fértil.,
Tenho porém a esperança que, o muito pouco que me é permitido dizer, venha a ser útil e proveitoso para interessados, como eu, em conhecer os feitos dos nossos antepassados.É um tema, tão interessante, quanto inesgotável, pena é que, muita gente, com o mesmo engenho e arte, queira reservar, só para si, guardadas em baús empoeirados, muitas das páginas gloriosas da nossa história, relíquias que são, verdadeiros alicerces do nosso futuro. O saber, o conhecimento só é útil e proveitoso, quando partilhado e, tal como a natureza que nos rodeia, torna-se mais belo quando utilizado por todos, enriquecendo o dia a dia de cada um

8.10.06

"Tesouros de Vizela"


Estabelecimento Termal - 1954

Estabelecimento Termal - 2004

No dia 1 de Maio de 1876 deu-se início aos trabalhos de construção do Estabelecimento Termal de Vizela, no local denominado Bouça das Pedras, junto ao Rio Vizela. Alguns anos depois, em princípios do ano de 1881, organizou-se uma comissão médica sob a presidência do Dr. José Pereira Reis, para aconselhar a direcção então formada, em tudo que fosse necessário.
A abertura solene deste estabelecimento, deu-se a 8 de Maio de 1881, tendo sido benzido pelo Monsenhor Rebello de Meneses
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