29.8.06

Parque das Termas (Fim)

Numa altura em que se pretende que o Parque das Termas de Vizela venha a ter o esplendor de outrora e em seguimento ao post anterior, permito-me transcrever alguns excertos de um artigo, escrito José Duarte Oliveira em 1886, no Jornal de Horticultura Prática, que então se publicava na cidade do Porto.

“Tem-se falado já muitas vezes das obras do Parque de Vizela e, com efeito, é um dos trabalhos de jardinagem mais importantes que ultimamente se têm empreendido no nosso país.
Muitos dos que nos lêem conhecem as Caldas de Vizela, essa encantadora aldeiazita, cheia de poesia e cercada de paisagem harmoniosa, que arrouba em doce êxtase o Artista que sabe sentir, que sabe distinguir o belo, que conhece a arte em todas as sua minudências.
O local onde se procede à obra não é como outro qualquer. Ali há uma grande dificuldade, porque não se trata de simples jardinagem: trata-se duma indefinida combinação de ideias, em que preciso respeitar sobretudo a Natureza, modificando-a, todavia, por modo que essa modificação cause uma impressão agradável e, sobretudo artística, sob o ponto puramente estético.

Que luta de gigante!...Destruir tudo o que a Natureza criou; esmaga-la a golpes de machado e criar uma nova Natureza! Remover terras, formar de terrenos acidentados planícies por onde os reumáticos possam passear sem esforço; em montanhas inacessíveis abrir estradas e avenidas pitorescas para onde os convalescentes possam ir aspirar ares puríssimos; transformar uma área considerável em Jardim atractivo, tal foi a ideia da Companhia das Caldas de Vizela e que os Srs. José Marques Loureiro e Jerónimo Monteiro da Costa tentaram por em prática.
Visitamos os trabalhos e difícil é hoje dizer-se o que será tudo aquilo, conquanto se lhe esteja dando a ultima demão, porque as obras de jardinagem só se podem avaliar quando as plantações tomam um certo desenvolvimento. Há a disposição das plantes, os agrupamentos, os efeitos, os golpes de vista e mil e um acessórios, que só é possível avaliar-se passados anos. É tal qual os ensaios de um drama: só quando todos os actores se apresentarem a caracter, é que se pode dizer do seu merecimento.
E no Parque de Vizela ainda está tudo despido: é necessário tempo; muito tempo.

O lago que se anda construindo é dos maiores que há em Portugal; mas pelo projecto aprovado, dificilmente se poderá levar a cabo. Consiste em introduzir-lhe um braço de rio que deve alimenta-lo, tendo mais abaixo uma saída. Sucede naturalmente que a corrente e as cheias destroem tudo e, melhor seria que, por meio de comportas, se lhe conservasse sempre a água necessária para navegar e se desistisse da saída.
São obras hidráulicas que custam muito e que nenhuma importância têm para casos destes.
E, de resto, o rio Vizela não é navegável naquele sítio e, por isso, não vemos a vantagem que possa ter a tal saída”

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